Comparado a outros países, inclusive de primeiro mundo, o Brasil investe muitos recursos no escola pública de nível superior — o que não quer dizer que são destinados e/ou aplicados sempre de forma correta — e pouco, mas muito pouco mesmo, na educação básica. Uma distorção que causa um efeito curioso: com algumas exceções, de um modo geral quem frequenta a escola particular tem mais chances de passar no vestibular para as concorridas universidades públicas e quem frequenta a escola pública no ensino fundamental e médio acaba vendo suas chances restritas a faculdades particulares de baixa qualidade que proliferam no país, cujo ingresso é facilitado por motivos mercadológicos.
O Enem e outros programas interessantes criados pelo governo, é preciso admitir, amenizam um pouco o problema, mas não resolvem. E o resultado é que esse perigoso business da educação afeta não só o futuro profissional de gerações inteiras como compromete, por consequência, o desenvolvimento do Brasil em diversas áreas.
Mais que isso, projetos pedagógicos ultrapassados, escolas públicas sucateadas, desvalorização absurda do profissional da educação, capacitações que só oferecem mais do mesmo,investimento praticamente inexistente em novas tecnologias para a sala de aula, a fim de motivar as crianças nesta era multimídia e digital, tudo isso somado à falta de compromisso de quem tem a caneta na mão para mudar essa realidade, criam um cenário considerado para muitos desanimador.
Mas é preciso acreditar que só a educação é capaz de mudar a triste realidade da desigualdade social no país e reverter o quadro de todas as mazelas que presenciamos e vivenciamos. Queremos uma escola pública que seja capaz de produzir um bom e atualizado conteúdo de informações nas diversas áreas do conhecimento para a base das crianças e dos jovens que vão escrever o futuro desta história. Uma escola moderna. Queremos mais, uma escola pública que forme cidadãos conscientes, questionadores, justos, preparados para conviver em sociedade, compartilhar espaços, ter responsabilidade com o uso dos recursos naturais, para respeitar a vida.
E não é possível vislumbrar esse sonho com a situação atual. A escola não pode ser reduzida à função de despejar conteúdos. Em um mundo de tanta produção de informação e de tanta rapidez no desenvolvimento das ciências ela precisa se reinventar e assumir a tarefa de facilitadora, incentivadora, agregadora. O sonho é possível sim com a escola em tempo integral, projeto defendido lá atrás pelo mestre visionário Darcy Ribeiro. Um espaço onde há sim o momento de repassar conteúdo, que é fundamental, mas de esporte, lazer, reforço pedagógico, merenda de qualidade, integração, motivação. É por isso que devemos lutar prioritariamente, porque essa é a parte de entrada para todo o mais.
Bruno Dauaire
advogado
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