Sendo alvo de críticas desde que
ocupou o cargo, a presidente da FCJOL recebeu a nossa equipe de reportagem para
uma entrevista exclusiva em um dos camarins do Teatro Trianon. Confira abaixo
as respostas de Patrícia Cordeiro para vários questionamentos levantados ao
longo de sua gestão.
Mania de Saúde – Durante todo o verão, repercutiu na imprensa local
um debate acalorado sobre os valores das contratações dos shows e eventos realizados
no Farol de São Tomé, com pessoas afirmando que os valores estariam altos. Qual
a sua avaliação?
Patrícia Cordeiro – Eu digo que tudo que efeito com o dinheiro
público tem que ter um viésde investimento. Showbusiness no Brasil é caro, a
gente também acha. Mas existe uma política de
entretenimento que tem que ser feita de forma responsável. Caro, no
sentido que as pessoas falam e nas suspeitas que alguns tentam levantar (e são absolutamente
falsas), seria se esse valor tivesse superfaturado, fora do valor de mercado,
se esse investimento não trouxesse retorno, se o custo benefício não valesse a
pena. E o que a gente vê não é isso. Todos os shows foram contratados dentro do
maior rigor da lei, da observação do mercado, do valor comprovado pelo artista
com todas as exigências que o Tribunal de Contas faz. Ele exige uma série de documentos
que comprovem o valor daquele artista. A Prefeitura de Campos não usa a figura
do intermediário, faz toda a transação direto com o artista. E o que vemos com
relação a outros eventos em outros municípios é que, aqui, os valores pagos são
sempre menores. A gente não está dizendo com isso que em outro lugar exista
alguma coisa errada. Estou dizendo que consigo realizar bons negócios. Isso eu
não tenho dúvida. A prova de que esse investimento tem um retorno positivo é que,
no mês de janeiro, o setor hoteleiro do Farol teve um faturamento de oito milhões
de reais. Cada processo se for analisado detalhadamente, é feito dentro do
rigor da lei, com preço de mercado e isso é parte de uma política de
entretenimento que trabalha em analogia como fomento do turismo e com o
desenvolvimento econômico. O verão do Farol não é um projeto da FCJOL. É um
projeto de governo, sendo que os eventos expressivos são gerenciados pela
fundação. As críticas que eu tenho ouvido e lido, na maior parte, são bem
levianas, bem superficiais.
Mania de Saúde – No final de 2013, coma exoneração do
Superintendente do Teatro Trianon, João Vicente Alvarenga, você acabou acumulando
essa função com a presidência da FCJOL. Isso será definitivo ou provisório?
Patrícia Cordeiro – O governo não sinalizou nada a respeito ainda
e, como isso aconteceu nesse período em que o teatro tem o recesso de verão,
estamos no aguardo. Existe uma equipe grande comigo. Grande em valor não tanto
na quantidade, mas de qualidade enorme, junto ao professor Orávio, ao Jorge
Luís, que está gerindo o processo. Por enquanto, não temos nenhum posicionamento
do governo sobre a questão. Mas nunca esteve tudo centrado em minhas mãos. A
prefeita tem essa característica, de fazer as coisas de uma forma
participativa, e o plano de governo de cultura foi elaborado com a participação
da equipe que está aí, o professor Orávio, o jornalista Jorge Luís e outras
pessoas que compõe a equipe. Uma coisa que é muito respeitada nesse grupo é a
vocação de cada um. Eu gosto de gestão, da parte administrativa, gerencial e
conheço o plano de governo da prefeita. Mas jamais conseguiria fazer alguma coisa
sozinha. Jamais conseguiria que o Curso Livre de Teatro tivesse o sucesso que
tem se não fosse a figura da Maria Helena Gomes, que é a vice-presidente da
FCJOL e diretora do curso. As ações da Superintendência de Igualdade Racial
jamais teriam o sucesso que têm se não fosse o envolvimento do Jorge Luís, que
está lá desde o começo, assim como a Superintendência de Preservação do
Patrimônio depende absolutamente do empenho, da paixão e do amor que o Orávio
imprime ali. O Arquivo Público, da dedicação e da experiência de Carlos Freitas.
A literatura não estaria fazendo um trabalho tão brilhante se não fosse o auxílio
do professor Alcir Alves.
Mania de Saúde – Desde o início, a sua gestão é alvo de críticas.
Como você lida com elas?
Patrícia Cordeiro – Não é difícil. Sou agente pública de um grupo
político expressivo, que tem na liderança um dos políticos mais influentes do
Brasil. Não achei que seria diferente. Críticas à gestão é natural, até porque
muita gente que critica já foi gestor e, de certa forma, deve ter gerido de uma
maneira muito diferente de mim. Então, isso ocasiona críticas mesmo. A forma
melhor de lidar, principalmente com as opiniões mais levianas, e tem coisas que
chegam a ser cômicas, é justamente não lendo ou não dando importância. É
inevitável que alguma coisa a gente fique sabendo, então, eu passo o olho. Às
vezes, olho e penso: “Será que alguém vai levar isso a sério?”. Não tem
antídoto melhor do que o volume de trabalho que eu tenho. Não dá para me aborrecer.
Mania de Saúde – Um dos questionamentos que têm sido levantados é
com relação às contratações, por parte da FCJOL, de bandas em que seu esposo
Lucas Cebola é músico. É legal, mas é ético? Como responde a esses
questionamentos?
Patrícia Cordeiro – Eu fico muito feliz com essa pergunta. Você é
primeira pessoa que dá a oportunidade de responder a isso. Tenho 19 anos de
casada. Conheci meu marido justamente porque ele era músico e eu trabalhava com
produção musical. O conheci como o melhor músico do instrumento que ele
representa, que é a percussão. Naquele momento, eu precisava de um
percussionista para efetuar um trabalho e ele foi indicado como o melhor. E, ao
longo desses anos, tenho que concordar, ele é um excelente músico. Não me
lembro de nenhum momento nesses 19 anos de casados em que nossa renda não tenha
sido de música. Meu marido sempre viveu de música. Temos uma filha de 17 anos e
outra de 6 que nunca tiveram uma mensalidade de escola paga que não fosse
oriunda do trabalho dele com a música. Então, virei gestora de uma fundação cultural.
E o que o cara faz com a profissão dele? Ele deixa de ser músico porque a
oposição passou a respeitar todos os músicos de Campos menos ele? Acho isso
improvável. Se é legal, é moral, ou não é, a gente chega num consenso. Ele começou
a achar que ia ser difícil. E, paralelo a isso, quem conhece a história do Lucas,
que só de registro profissional tem 28 anos, sabe que ele participou de uma
banda que tem uma trajetória muito emblemática. Ele perdeu um irmão nesse
trabalho, o Pedrinho, que era multi-instrumentista e faleceu no auge do
trabalho. Chega uma hora em que as crianças vão crescendo, os cabelos vão
ganhando fios brancos e ele chegou e disse que não tinha mais esse desejo todo
em continuar com esse trabalho. E ele sempre tocou com outros músicos. É
impossível para um músico que vive disso recusar um convite para um trabalho
como gravar um CD, porque a esposa dele agora é presidente da Fundação Cultural. Ele vive disso. Ganha
cachê por isso, como qualquer músico. Minha filha um dia me mostrou uma foto no
celular e disse: “Mãe, meu pai estava dormindo
e eu fui lá e tirei uma foto das mãos dele. Como que o único músico que
não merece respeito na cidade é o meu pai? A vida inteira eu vi as mãos do meu
pai sangrarem para eu estudar”. Isso é louco. Acho que, se o chamarem para
tocar, e ele achar que é um bom projeto, tem que fazer. Fico feliz com essa
pergunta e na esperança de essas denúncias serem investigadas. Acho até que o
Ministério Público uma vez se pronunciou, pediu um relatório das ações e
concluiu que é uma falácia, além de ser um desrespeito com o músico.
Mania de Saúde – Para finalizar, quais são os planos da FCJOL para
2014?
Patrícia Cordeiro – Temos, neste mês, o aniversário da cidade. E,
na sequência, o carnaval fora de época. Paralelo a isso tudo, a gente já está
trabalhando na 8ª Bienal, homenageando José Cândido de Carvalho, que será do dia
16 de maio ao dia 25 de maio. As reuniões estão bem adiantadas. O plano de
trabalho da nossa Orquestra Sinfônica Municipal e do nosso Coro Municipal está
maior do que o do ano passado, com a possibilidade da orquestra realizar outra
turnê internacional, pois existe convite
para isso. A Companhia de Dança aumentou o plano de trabalho e contemplou o
convênio com a parte de figurino, de coreógrafo, que até o último convênio não
tinha. O Curso Livre de Teatro será absolutamente incentivado. Da última turma
que se formou, oito alunos passaram no vestibular de Artes Cênicas da UNIRIO, o
que nos deixou muito feliz. Tem toda a programação do Museu que já está pronta
até julho. O Arquivo Público Municipal está em processo de recuperação de documentos
e incentivo à pesquisa. As casas de cultura estão funcionando a pleno vapor e
com uma participação efetiva da comunidade. E mais um monte de coisas que
estaremos divulgando ao longo do ano.
Texto produzido em: 19/02/2014
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