Lideranças do PT favoráveis a Dilma subir no palanque de Garotinho
Helio Cordeiro e
Paulo Renato Pinto Porto
O Palácio do Planalto não deverá trabalhar para implodir a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho (PR) ao governo estadual, como deseja o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), segundo fontes do Palácio do Planalto. Contudo, para não perder pontos no PMDB, as articulações alinhavadas no quartel do PT, em Brasília, ganham características de “uma vela a Deus e outra ao diabo”.
Na semana passada, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o ideal é sempre ter “um candidato único” da base aliada. “Mas em alguns estados isto não é possível devido à realidade local. E apoio não se recusa”, afirma Padilha, ao jornal O Globo, em referência ao apoio de Garotinho ao nome de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Grande projeto – No caso particular do Estado do Rio de Janeiro, está clareando a formatação de um projeto em que, nas hostes petistas da linha de frente, não deva ser admissível, na construção da candidatura da ministra-Chefe da Casa Civil, descartar o apoio de Garotinho, presidente estadual do PR. Nesse caso, dois palanques formam o desenho, com o Globo sinalizando que assina em baixo.
No entanto, a insistência de Cabral para que Brasília force Garotinho a desistir de concorrer ao governo estadual teria deixado o presidente Lula irritado, sobretudo após as exigências do governador para que a pré-candidata não suba no palanque de Garotinho nas eleições de 2010. O colunista Ilimar Santos informa que, de acordo com integrantes do Palácio do Planalto, Cabral não está em condição de fazer exigências.
Fiel da balança – Um dos argumentos é que, sem a ajuda do governo federal, o governador fluminense não teria conseguido levar as Olimpíadas para o Rio e que ainda está sendo beneficiado com investimentos, sobretudo em obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), cuja obra de maior porte foi a urbanização do Complexo do Alemão, onde foram investidos R$ 800 milhões.
Numa dedução breve, mesmo sem ter ainda definido se concorrerá mesmo à sucessão de Cabral, quem se fortalece como fiel da balança, na construção de uma estrutura sólida para Dilma no Rio é Garotinho, fato que interessa aos petistas, porém, gera focos polêmicos junto ao batalhão peemedebista sob o comando do governador.
Componente forte – O encontro de Dilma Rousseff com Garotinho, dia 25 de janeiro, ainda prevalece como componente forte no descontentamento de Cabral. Ele soube da conversa somente no dia 3 de fevereiro e aproveitou a ida a Brasília, por conta da convenção do PMDB, dia 6, para tentar tirar satisfações com Lula, que não o recebeu.
O presidente mandou-lhe um recado que ambos conversariam durante o Carnaval. Só que Lula não foi ao sambódromo na Marquês de Sapucaí, frustrando Cabral, que escolheu Dilma para desabafar. Também a conversa amistosa entre Garotinho e o presidente nacional (licenciado) do PMDB, ministro do Trabalho, Carlos Lupi, “a pedido de Dilma”, tem contribuído para o governador “passar noites em claro”.
“Lula já deu mostras de que está de saco cheio de ouvir pedidos e reclamações do governador”
O presidente Lula tem reagido às cobranças de Sérgio Cabral
Na verdade, trata-se de uma pauta que domina o noticiário político nacional, no sistema de comunicação como um todo. De acordo com informação do jornalista Dácio Malta em seu blog, só mesmo em caso de uma circunstância excepcional, Cabral só encontrará Lula em março, pois nesta segunda-feira (cinco de fevereiro), o presidente viajará para o Caribe, percorrendo El Salvador, Cuba e Haiti.
“Lula já deu mostras de que está – em bom português – de saco cheio de ouvir tantos pedidos e reclamações do governador”, diz. Sobre imbróglio, Garotinho comenta em seu blog. “Não é a primeira vez que o presidente Lula reage aos desvarios e às cobranças enraivecidas de Cabral. No episódio do pré-sal, quando Cabral meteu o dedo na cara do ministro Edison Lobão, na frente de Lula, o próprio presidente não fez questão de esconder seu desagrado com a postura do governador do Rio”, analisa.
“Por conta dessa postura arrogante e das cobranças públicas, foi que Lula que não quis vir ao carnaval do Rio. Não ia se submeter ao constrangimento, de ser cobrado publicamente por um governador que deve tudo a ele e em troca, vem dando demonstrações de deslealdade e até fazendo ameaças”, finaliza. Cabral entende que “quando há dois palanques, pode ser um problema”.
O peemedebista questiona, em matéria de O Globo, sem citar o nome da ministra Dilma: “como é que ela vai no mesmo dia para um palanque da situação q para um da oposição?”. Pré candidato ao Senado sob as bênçãos do Palácio Guanabara, o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, faz resumo óbvio, ao entender como incoerência de Dilma subir em dois palanques: “Essa postura da Dilma só faria crescer a campanha do Gabeira e do Serra”.
“Em 2006, o presidente foi em dois palanques em alguns estados, e não foi em alguns outros”
Ricardo Berzoini sobre Garotinho: ‘Não vamos recusar esse apoio’
A polêmica está evidente e ganha, agora, publicamente, o seio do PT, onde Lula declara que não irá participar de campanha política em estados onde houver mais de um palanque com candidatos de partidos aliados, como o PT e o PMDB. O presidente não cita exemplos, e dita que as direções partidárias devem gastar os argumentos que tiverem para que se possa fazer essa aliança política. Mas o ex-presidente nacional petista, Ricardo Berzoini, faz o contraponto.
Em entrevista ao jornal O Globo de ontem, Berzoini economiza palavras, porém é objetivo. “No Rio, o Garotinho já declarou que vai apoiar a Dilma. Não vamos recusar esse apoio. Em 2006, o presidente Lula foi a dois palanques em alguns estados, e não foi em alguns outros”. Outro fato que está sendo considerado “bastante relevante” é que o ex-governador preside hoje um partido (PR) que, da mesma forma que o PMDB de Cabral, faz parte do bloco de apoio ao governo de Lula.
Vários outros petistas de primeira linha fazem coro com Berzoini, que fecha sua posição com uma sentença que desbota ainda mais a tela de exclusividade pintada por Cabral: “a candidatura da ministra será uma coalizão entre muitos partidos”. Enquanto Garotinho, a cavalheiro em todo o cenário Dilma Rousseff-Rio de Janeiro, opta, agora, pela diplomacia: “A declaração do Lula pode estar relacionada a outros estados, como a Bahia, e não ao Rio de Janeiro”.
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