A Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de São João da Barra participou ontem da soltura de 25 filhotes de tartaruga da espécie Cabeçuda, nome popular da Caretta-caretta, espécie mais comum na costa Norte do Estado do Rio. A soltura aconteceu no Caminho das Conchas, na praia do Açu, nas proximidades da ponte de acesso ao futuro porto do Açu e contou a presença do gerente geral de operações do Porto, Romeu Rodrigues, de executivos da Anglo Ferrous Brazil, parceira do empreendimento, técnicos do projeto Tamar e dos prefeitos de Tombos (MG), Ivan Andrade e de Natividade (RJ), Marco Antônio Toledo.

Durante a soltura de tartarugas o secretário de Meio Ambiente de São João da Barra, Marcos Sá, que representou a prefeita Carla Machado, em missão oficial ao Rio, anunciou que na semana seguinte ao Carnaval apresentará uma proposta de cooperação ao Tamar, um dos projetos ambientais mais bem sucedidos de todo o mundo, realizado há mais de 30 anos na costa brasileira. Marcos Sá defende que a participação da Prefeitura de São João da Barra poderá facilitar a ação do Tamar e contribuir no aumento da população de tartarugas no litoral brasileiro.

Os filhotes soltos ontem tiveram os ovos recolhidos dos ninhos monitorados pelo projeto há aproximadamente 70 dias. Durante o período os ovos ficaram armazenados em condições ideais até a eclosão, ocorrida 24 horas antes da soltura. Durante a última temporada reprodutiva, que acontece de setembro a março, foram catalogadas cerca de 800 desovas, o que leva a crer que aproximadamente 150 fêmeas possam ter realizado a postura ao longo dos 62 quilômetros de praias monitorados pelo Tamar, desde Barra do Furado até São Francisco do Itabapoana.

Segundo Daniela Torres, bióloga do projeto, a Cabeçuda é uma espécie grande de tartaruga, podendo medir até 1,1 metro e pesar até 110 quilos. No entanto, como faz parte da cadeia alimentar marinha, estima-se que apenas um de cada mil filhotes sobreviva: “daí a importância do trabalho realizado pelo Tamar, cujo objetivo é reduzir os efeitos da ação do homem sobre o processo de reprodução”, explicou.

Ivan Hikari Kawata, oceanógrafo de campo do Tamar explicou que o objetivo do projeto é identificar os ninhos ao longo da costa e realizar a contagem e se necessário o recolhimento dos ovos para garantir o nascimento de novos filhotes. Os ninhos fora de risco da ação humana não são mexidos. “Nesse caso nós apenas catalogamos e colocamos uma estaca para identificação”, acrescentou.

Desde 1992 o Tamar atua nas praias da Região. As primeiras ações foram em São João da Barra e São Francisco do Itabapoana, com a participação do ambientalista Sidney Salgado, hoje assessor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Sidney destaca a importância do projeto para o equilíbrio do ecossistema, visto que as tartarugas da espécie Cabeçuda levam de 25 a 30 anos para chegarem à idade reprodutiva. Calcula-se que desde 1992, mais de 90 mil filhotes já tenham sido soltos, em toda a Região.

Segundo o secretário de Meio Ambiente de São João da Barra, Marcos Sá, a Prefeitura tem total interesse na parceria com o projeto, tanto pela importância da questão ambiental, quanto pelos resultados já apresentados na Região e em outros locais do Brasil: “a questão ambiental é fundamental para a Prefeitura, ainda mais com um projeto do porte do porto do Açu, que produz efeitos sociais e ambientais, mas inegavelmente também tem interferência negativa na comunidade e no ecossistema. Por isso estamos atentos a ações que possam mitigar quaisquer efeitos danosos ao ecossistema”, afirma o secretário. “A prefeita já orientou a nossa equipe técnica que pretende fazer de São João da Barra um exemplo de desenvolvimento sustentado”, completou Marcos Sá.

Após a soltura, o secretário de Meio Ambiente e os demais convidados participaram do plantio de espécies nativas na área de restinga próxima ao empreendimento capitaneado pelo grupo EBX, do empresário Eike Batista.